*Francisco Isaias Sousa

 

     Penso que existem dois tipos de leitores da escritora Fernanda paz. Os leitores distantes, geograficamente falando. E os que tem o privilégio de serem seus amigos ou de pertencerem a algum círculo de convivência como família e trabalho. Penso eu que quem faz parte desse segundo grupo, são os mais privilegiados, pois só assim podemos entender com mais profundidade o nível de escrita de cada texto do livro O BURACO, por que o leitor mais atento vai juntando em cada conto tracinhos autobiográficos da autora, como se fosse peças de um quebra-cabeça, mas ao final, o que surge é um mosaico, multicolorido, e uma sainha xadrez aqui, um cd acolá, uma bolsa colorida que surge em outro conto, uma referência a um local de trabalho, etc. Mas ao final o que encontramos não é um retrato de uma vida em particular, mas a tela de uma alma, que pode muito bem ser a minha ou ser a sua, refletindo assim uma temática universal que toda grande obra literária precisa ter e que a escritora Fernanda Paz fez com maestria em seu livro, mesclando eventos cotidianos com referências universais como Kafka, Alice no pais das maravilhas e outras obras.

       Em um primeiro momento podemos nos chocar com algumas narrativas de seus livro, misto de violência e perversão, mas como um grande escritor já disse a alta literatura nunca é sobre a felicidade, isso já prova o nível que a escritora resenhada aqui alcançou.

Que ela continue assim, pondo o dedo nas feridas de nossa alma, de nosso tempo, pois se o Rio de Janeiro tem o Rubem Fonseca, O Piauí tem a Fernanda Paz, e ela não deixa nada a desejar com um estilo de escrita arrojado, sintético e violento, UM SOCO NO ESTOMAGO DO LEITOR, como quer ALLAN MOORE. Além de uma brevidade que a torna representante do conto e toda riqueza e potencialidade que as histórias curtas podem conter. A escritora ALICE MUNRO provou isso ao ganhar um Nobel de literatura escrevendo somente livros de contos ao longo de sua carreira, bem, diante disso acho que o conto está muito bem representado a nível internacional, nacional e estadual, e nesse último devemos isso a obra o buraco.

      Como os livros de Nietzsche a escrita de Fernanda Paz, não é para os fracos, e sim para os fortes. Se você abrir o livro dessa escritora e começar a ler, você corre o risco de entrar em um buraco, pode ser a toca do coelho, pode ser o guarda roupas das crônicas de Narnia, independentemente de você ficar lá ou não, nunca mais serás o mesmo.

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*Professor Especialista da Prefeitura Municipal de Teresina, amante de livros, filmes e quadrinhos.