É debaixo dos lençóis, a dois, que percebemos o quanto somos sós.
O abraço do braço não chega à alma.
O vazio de dentro não se preenche com o gozo.
É debaixo dos lençóis, depois da luz apagada que a lágrima cai.
A lágrima é a gota de solidão que o corpo expele.
É a gota de um imenso rio interno
Um rio escuro de águas frias que gela o interior do corpo.
Enquanto o calor de fora agoniza.
O calor de um abraço sem alma.
E não se sabe como esse rio solidão consegue se aninhar
A noite nos faz ouvir os sons das batidas no corpo escudo
Nada penetra.
Nada permanece.
Preferia melodias nas veias
Ao invés de sangue
Assim quando de súbito
Meus cortes ficassem expostos
Encheria os ouvidos
Ao invés de sujar-lhes os tapetes
Há uma máquina
Fotografando nossas almas
E pendurando em um canto qualquer
Há uma janela
De onde se avista águas calmas
Que não emitem um som sequer
Há quem nunca olhe as fotografias
Há quem não mergulhe no silêncio da janela